sábado, 10 de outubro de 2009

Carnaval no Rio de Janeiro

Com imensa piada um amigo, que desfilou no Carnaval no Rio, fez a sua narração pormenorizada desse acontecimento, isto em 2001. 
(Espero que não seja levada a mal alguma da linguagem utilizada)



       Por volta das 18,00 de domingo la me arranjei e fui pegar o 'van' para me levar para o sambódromo. No caminho para o local de encontro do 'van' como a minha fantasia era pequenina, toda a gente me perguntava qual a escola que eu ia desfilar, só rir! 
       Bom, quando cheguei ao sambódromo tinha uma dificuldade considerável, onde é que iria guardar a fantasia enquanto eu assistia ao desfile das escolas!! Bom, lá perguntei onde poderia guardar a fantasia, mas as primeiras 4 pessoas com quem falei disseram que não havia sitio nenhum para guardar fantasias. Bom, mas como no Brasil isso não quer dizer nada, lá consegui convencer um fulano para me deixar guardar a fantasia na sala da organização da 4a arquibancada....
    Seguidamente, quando cheguei à 4a arquibancada, todos os lugares da frente estavam ocupados, e então pensei eu para os meus botões (eu vou ficar de pé mesmo, portanto vou lá para os 1os lugares à mesma), Quando lá cheguei estava lá a excursãozinha toda da Expo parte 2 que tinham estado na fila desde as 3 da tarde e que estavam prestes a dar-me uma coça!!! Lá eu tive que fazer o meu ar mais inocente e estrangeiro possível para ver se saia dali sem muletas, e lá assisti ao desfile das escolas.
    De facto os brasileiros vibram imenso com o Carnaval. Para eles é uma questão de orgulho pessoal que a sua escola ganhe. Assim que começava a tocar a música, ainda mesmo sem nenhuma escola à vista o pessoal desatava a sambar no pouco espaço que tinha, uma loucura! Tive uma sorte tremenda porque do sitio onde estava conseguia ver com bastante nitidez todos os desfilantes. Imaginem que vi alguns actores, entre os quais o Miguel Falabella. O comentário quando ele passou era "gente do céu, pode esse homem maravilhoso ser bicha?! Olha só o desperdício gente".
    À 1 da manha eram horas de me por a andar dali para me encontrar com o resto da escola Beija-Flor. Quando fui tentar ir buscar a minha fantasia, um dos seguranças me levou até à sala onde tinha a minha fantasia. É claro que começou o segurança logo a perguntar onde era o encontro da escola, e lá eu lhe disse que era no edifício "balança mas não cai", ao que o senhor logo viu ali uma oportunidade de negócio imperdível, e então vira-se para mim e diz, mas isso é longe para caramba, como você vai chegar lá....ao que eu encolhi os ombros! E vai-se-me daí que me disse para o acompanhar ao banheiro (e eu a pensar: não me digas que este gorduroso quer que eu lhe pague com o corpo para ele me dizer onde fica o raio do edifício!). Quando chegamos à casa de banho estava lá um gajo (segurança da organização), que estava ali mais para o engate do que para trabalhar. Aí foi quando o senhor me propôs o negócio "eu te levo lá, mas tu me dá umas bufunfa", ao que eu deduzi que fosse dinheiro...  
      Pensava o meu mais recente partner que eu estava cheio da grana, mas enganou-se, eu tinha um míseros 1300$00, mas eu é que não lhe disse quanto dinheiro é que tinha, e ele também não exigiu nenhum dinheiro à partida.
No caminho para o referido rendez-vous, dei graças a todos os santinhos por estar com o segurança, pois sentia-me a atravessar uma favela (o que não estava longe da verdade) com cheiros e esgotos e bêbados e etc...Ainda por cima, o que a fulana da agência de viagens tinha descrito como "saindo da arquibancada 4, é logo à esquerda" era só assim uma boa meia hora de caminho por meio de uns caminhos horríveis (e à1 da manha tudo fica mais misterioso...). 
      Quando já tínhamos andado para aí uns 25 minutos, lembrei-me que se calhar não era muito boa ideia enganar o fulano, senão ainda me arriscava a ficar ali estendido no meio do caminho debaixo do viaduto, e lá lhe disse quando ele parou para uma bejeca, que todo o meu dinheiro eram 14 reais, ao que ele ficou muito desapontado, e deu por acabado o serviço de imediato. Giro mesmo foi que como tinha o dinheiro nos calções de banho, e tinha as notas todas enroladas, nem me apercebi que só lhe dei uns 600$00.
      Nesta altura pensei: mas onde é que eu estava com a cabeça quando me deu para desfilar no Carnaval, duvido que algum dia encontre este famigerado edifício, e que alguma vez desfile no sambódromo, se sair daqui com vida já me posso considerar um sortudo! Bom, aí lá eu segui umas pretas gordérrimas com um aspecto de favela enorme, mas com um aspecto inofensivo, lá resolvi meter conversa com uma delas que me disse para a seguir pois o rendez-vous afinal tinha mudado e tinham mandado as pessoas para outra rua, que eu nem sabia o nome! Enfim, uma sorte brutal, já que ao menos já tinha chegado ao sitio onde era suposto estar!!
      Escusado será dizer que quando cheguei ao suposto sitio, não havia ninguém para me dizer o que era para fazer, onde estar a que horas começava, nada, rien...A  única coisa que eu soube pela minha mais recente amiga favelense foi que tinha que encontrar a minha turma com a mesma fantasia que eu..Olhei em redor, e vi todas as fantasias e mais algumas menos o pessoal que ia desfilar comigo. Mais uma vez e graças à nossa senhora dos aflitos, de repente olhei para o lado e vi um pretito com uma fantasia igual à minha, era o marido de uma pretita que ia desfilar na minha ala, e que vinha também com o pai! Nem imaginam a minha alegria! É claro que não desgrudei nem mais um segundo da família pitanga! Ainda que eles soubessem menos do que eu, ao menos não estava sozinho. Sim, porque dado que estava num sitio onde s por ali andavam prostitutas, prostitutos, cães lazarentos, bêbados, gajas a mijar no meio da rua à frente de toda a gente, e aquela família era o que demais seguro eu poderia encontrar! Nem dá para imaginar que cada minuto que eu passava sem ser abordado por nenhum bêbado ou algué m a pedir, era cada minuto que eu rezava a santa joana princesa por toda a sorte do mundo!
     No meio desta podridão toda, viam-se gajões de sunga a mijar no meio da rua para toda a gente ver. Bichonas às resmas de sunga a fazer escarceu no meio da rua, via-se já muita gente com fantasias, e também se viam os carros alegóricos na estrada principal. Um contraste brutal entre fantasias de cores florescentes e com combinações de cores fantásticas, e carros alegóricos lindíssimos, e toda aquela podridão que se via pelo meio da rua. Ali dava para ver com uma clareza enorme, que aquele Carnaval tinha nascido de pessoas muito pobres das favelas, e que sempre tinha sido assim! Aquela gente vive em favelas o ano inteiro, mas aquela é a sua noite de gloria, e não sei como, conseguem por de pé um dos espetáculos mais deslumbrantes do mundo!
      Bem, lá me entreti na conversa com a minha recente amiga Verena, que me disse que nem tinha dormido a semana inteira de tão ansiosa que estava com o desfile.
      Para ela que morava em Nova Iguaçu, quando soube que poderia desfilar na Beija-flor, era estar a realizar um sonho de uma vida inteira!
      Depois de nos vestirmos no meio da rua como toda a gente, lá encontramos a nossa ala!     
      Nem imaginam a quantidade de estrangeiros que como eu pagaram para desfilar no carnaval do Rio! O que mais me custou foi sem duvida as horas de espera para o começo do desfile. Já não podia com a fantasia, e nem estava bem em posição nenhuma! O que valia é que haviam imensas bichonas de fantasia posta que só estavam bem a fazer bichisses, e com as quais eu me fartava de rir!
      As 6,30 da manha lá começamos a dirigirmo-nos para o Sambódromo, e a partir dali já tinha que estar tudo a postos para entrarmos todos nas posições indicadas! Lá nos mandaram alinhar em filas e depois mandaram-nos dar as mãos, tudo para entrarmos todos allinhadinhos!!! 
      Quando a musica começou a tocar, começou-me a percorrer um arrepio pela coluna acima, e lá começamos a desfilar e a sambar! 
      É uma sensação espectacular, olhar para os lados e ver centenas de pessoas a vibrar e a dançar com a musica da minha escola, e eu fazia parte daquele show!!! É espectacular, o pessoal parecia que estava possuído pelos seus instintos mais carnavalescos e toda a gente não parava de dançar e de saltar ao longo do sambódromo. Tal intenso foi o momento, que apesar de ter estado cerca de 1 hora a desfilar, parecia que tinha sido só 5 minutos! Ainda por cima tive a sorte da minha ala estar relativamente próxima da bateria, o que nos fazia sentir a vibração dos tambores e dos outros instrumentos todos, um espectáculo!
      No fim do desfile, mais uma vez voltávamos à realidade crua da pobreza e da favela. Por todo o lado, aquele pessoal que não ia voltar a desfilar deixava as fantasias mesmo ali no fim do sambódromo. Era como uma anti-climax ver muitas fantasias com plumas e tecidos de cores deslumbrantes ali no meio do lixo e da lama e do esgoto, era um contraste enorme!
      Bom, no final eu e a minha amiga Verena tínhamos que encontrar o pai e o marido dela, até mesmo porque eu tinha deixado a minha roupa com eles, e tudo o que eu trazia vestido era parte da fantasia ( e que não era muito, a não ser os calções de banho e uma faixa de plástico transparente com umas plumas). Diga-se de passagem que esperamos cerca de 2 horas junto ao local combinado e nada daquelas entidades. Pois ali estava eu naquele bonito traje de tanguinha e de corpo made in holmes place mesmo à beirinha da favela! Bom, nem sei como nem porque, quando tudo parecia mais uma vez perdido, lá vimos um taxista que nos perguntou se precisávamos de taxi. Pois eu considerava-me a pessoa mais sortuda do mundo. Lá dei boleia no taxi à minha amiga até à estação de trem, e depois lá vim eu para o Hotel mais morto que vivo. 
      Estava acordado haviam 24 horas e não sentia as pernas nem os pés. Só pensava no pequeno almoço no hotel, pois estava morto de fome, e com a minha querida caminha!
      Às 9,30 da manhã lá me deitei, e como tinha dormido muito as 13 horas lá me acordou a senhora da limpeza a dizer que precisava arrumar o quarto...
      Bom, lá fui tomar banho e vesti-me para mais um dia no maravilhoso Rio de Janeiro. Lá pus os pés ao caminho e fui direitinho a Ipanema (o local mais gay que eu já vi). Fui a pé para poder aproveitar a vista maravilhosa do calçadão. Ipanema fica para aí uns bons 40 minutos a pé, mas eu não me importei, a beleza circundante era tal que não me importava com as dores nos pés!
     
PS - A Beija Flor ficou em segundo lugar este ano!!!


O sambódromo à noite



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