quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Castrati

A mezzo-soprano italiana Cecilia Bartoli grava no seu CD "Sacrificium" 11 árias do século XVIII de compositores italianos desconhecidos, escritas para os Castrati - cantores castrados ainda meninos, a fim de preservarem o timbre angelical de suas vozes. Atingindo a idade adulta, uniam duas características impossíveis de se encontrar nas mulheres: tessituras amplas e potência vocal inigualável. Eles dominaram a cena lírica e sacra europeia nos séculos XVII e XVIII, enquanto perdurou a proibição, pela Igreja Católica, das mulheres cantarem nos templos. 

"Sacrificium" conta a história dos castrati em toda sua complexidade, a sua beleza, fascínio, glamour, controvérsia e crueldade. Estas árias pertencem ao reportório mais belo jamais escrito para a voz humana, escrito para mostrar a capacidade de respiração extraordinária de muitos dos castrati. O álbum centra-se na escola napolitana, que produziu os castrati famosos como Farinelli e Caffarelli. 

Centenas de milhares de jovens (cerca de quatro mil por ano só na Itália), em geral de famílias pobres, que mostravam alguma aptidão precoce para o canto eram castrados antes ou no início da puberdade, impedindo seus corpos de fabricar hormonas que desenvolvessem a laringe. Com isso, tinham uma facilidade enorme no registo agudo. Como não passariam por mudança de voz, seu treino podia começar  muito cedo; assim, ao chegar à fase adulta, tinham uma técnica incrível. Muitos não vingavam e acabavam prostituídos nas ruas. 

Para apreciar. Magnífico! 

Cecilia Bartoli,
Giovanni Antonini, Il Giardino Armonico.
Sacrificium, 2009.
Francesco Araia, da opera Berenice, "Cadrò ma qual si mira" (Demetrio)

 


Cadrò, ma qual si mira
Parte cader dal monte
Della sassosa fronte
Che quant'a lei s'oppone
Urta, fracassa e seco
Precipitando va.


E se non resta oppresso
Dalla fatal ruina,
Sente da lunge anch'esso
Attonito 'l pastore
Lo strepito del colpo
Ch'impallidir lo fa.

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