quarta-feira, 14 de julho de 2010

Futebol: terapia para as mulheres HIV-positivas


No Zimbabué as jogadoras “Andorinhas dos ARV (Anti-retrovirais)”, são uma das 16 equipas femininas sero-positivas, formadas pelo jogador veterano Chris Sambo.
Ganhando fôlego após o treino pesado, Elizabeth Maseswa lembra como foi expulsa de sua casa em Harare quando revelou a sua seropositividade antes de encontrar uma nova família no campo de futebol. "Há cinco anos atrás, minha mãe renegou-me e expulsou-me de casa.”
“Eu não tinha a quem recorrer antes de me juntar à equipa ", disse Maseswa de 26 anos, a capitã das Andorinhas ARV. "Jogar futebol ajuda-me muito, alivia o stress e partilhamos os nossos problemas como uma equipa”.
Outras equipas incluindo as “ Estima Erradicado” e “Embaixadoras do Vírus”, cujas jogadoras criaram um vínculo de tipo familiar, que deve ser a inveja de algumas das equipas que sairam da Copa do Mundo na vizinha África do Sul.
Num país que não está somente no meio da epidemia do HIV, mas também tem sofrido grave escassez de alimentos durante uma crise prolongada da economia, a  solidariedade e o companheirismo são fundamentais.
"Às vezes eu não tinha mesmo as coisas básicas, como o sal, mas logo que desabafava com as minhas companheiras elas ajudavam-me”, disse Maseswa.
"Nós partilhamos os problemas uns dos outros." 
Para além da camaradagem, as jogadoras dizem que o futebol integrou-as.
"A minha cunhada costumava cantar sobre o meu estado de saúde dizendo todo tipo de insultos, mas tudo mudou quando eu comecei a jogar futebol."
"Algumas pessoas não querem partilhar uma garrafa de água comigo, eu não podia andar aqui sempre com os dedos a apontarem para mim, mas isso mudou, porque agora eu sou uma jogadora de futebol."
Sambo, um ex-secretário da Liga Profissional de Futebol tem a consciencia de que o futebol é um desporto que atrai um público muito grande e, com o fito de desmistificar o HIV decidiu formar uma liga de senhoras seropositivas.
Durante os jogos, literatura sobre o HIV é distribuído além de possuirem um centro móvel para despistagem da doença. Identificaram outras 46 equipas, e planeiam ter este projecto em todo o país.
As jogadoras recebem os anti-retrovirais dos Médicos de Sem Fronteiras, enquanto um banco local e uma empresa de gasolina também contribuem com kits.
Embora o futebol alivie o stress, os membros da equipa ainda tem que cuidar de si e suas famílias, com um pouco de lenha que recolhem de uma fazenda vizinha para vender.
O membro mais antigo da equipa é Maria Chinyama, 48, cujo marido morreu em 2002.
"Agora dou-me muito bem com os outros membros da minha família por causa do futebol", disse ela, enquanto embalava o filho de outra colega de equipa.
O Ministério da Saúde e da Infância do Zimbabué, que luta para fornecer anti-retrovirais a  todos os doentes, diz que a taxa de prevalência de HIV na faixa etária dos 15-49 anos declinou para 13,7% em 2009, quando há dez anos era de 33%.

Por mais que os séculos passem, o discurso de ainda muitos homens é de que as mulheres devem ficar em casa, ter filhos e cuidar deles. Felizmente são uma minoria e  elas nem querem saber disso.

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