Randa, a libanesa transexual, uma das pioneiras do movimento Transgender Underground do mundo árabe, lançou as suas memórias, numa ousadia sem precedentes, narrando a sua luta para se tornar uma mulher contra todas as probabilidades.
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"Mouzakarat Randa al-Trans" ou "As Memórias de Randa a Trans”, é uma narrativa brutalmente honesta que traça as batalhas de Randa com a família, com a sociedade, o país, a religião e os abusos na sua Argélia natal.
O livro de 144 páginas lançado este ano em Beirute, revela detalhes da vida de Randa, desde a infância como macho, até à sua primeira experiência sexual com um homem, e as consequências da sua escolha em viver como um homem mulher transexual.
"Houve um momento em que coloquei dois frascos de comprimidos na minha cómoda e sabia que tinha uma escolha", disse Randa, cujo nome era Fuad quando nascimento.
"Eu poderia morrer agora, tomando o frasco inteiro de medicamentos, ou começar no frasco de hormonas e viver como uma mulher e com a possibilidade de que poderia morrer nas mãos de alguém."
Insistentes ameaças de morte no ano passado obrigou-a deixar sua terra natal e, com o visto expirado Europeu e amigos na cidade próxima de Beirute, no Líbano, parecia a escolha óbvia.
"Eu vinha recebendo ameaças há algum tempo", disse ela. "A segurança geral na Argélia tinha feito um processo sobre mim, e eu tinha sido "avisada" por determinados grupos islâmicos.
"Em abril último, foi-me dado um ultimato de 10 dias: ir embora ou ser morta".
Magra e de voz suave com longos cabelos escuros, Randa vive hoje como uma mulher em Beirute, onde ela está se preparando para completar o processo cirúrgico que irá transformá-la em fêmea.
Embora a lei libanesa criminalize relações do mesmo sexo, não faz menção à cirurgia de mudança sexual.
E, embora os valores patriarcais ainda imperem sobre este pequeno país mediterrâneo oriental, a sociedade relativamente tolerante de Beirute e a reputação astral dos médicos libaneses têm encorajado as pessoas de diferentes orientações sexuais e identidades buscar refúgio nesta vibrante cidade.
"As pessoas perguntam mas por que é que alguém iria desistir dos privilégios que os homens têm e ser classificado ainda pior que as mulheres que nasceram mulheres?", disse Randa.
"Precisamos fazer as pessoas entenderem, que a palavra transexual não é sobre sexo e não sobre o prazer" acrescentou. "É sobre identidade".
Enquanto o Irão pune a conduta homossexual com a execução, na repúiblica islâmica a mudança de sexo é permitida por decreto religioso, famosa por ter a maior taxa de cirurgias de mudança de sexo depois da Tailândia.
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Cada vez mais pessoas vêm ao Líbano para essas cirurgias porque a lei não o proíbe e o sector médico é altamente respeitado.
Para Randa, que rindo recusou a revelar a sua idade, admitindo ter "30 e poucos anos", a aprovação da família esteve fora de questão.
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"O que tenho eu a perder se a sociedade me rejeita?"
"Às vezes quero desistir e ir embora, mas eu sei que se eu sair, eu vou voltar".
"A liberdade nunca lhe é dada" acrescentou. "Você tem de chegar lá e agarrá-la, às vezes, não importando os riscos".
"E agora nós não podemos parar de lutar".
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