Quando os meus pais eram jovens, candidataram-se às casas do Bairro Social do Restelo, cuja condição essencial era um agregado familiar de 5 filhos tendo-lhes sido atribuída uma vivenda geminada com uma renda mensal de 800$00 (4€), quando o meu pai ganhava cerca de 1800$00 (9€).
Nos anos quarenta/cinquenta, as medidas de expansão urbanística de Lisboa, que se encontrava em franco crescimento, lançadas pelo Estado Novo, traduziram-se na construção de novos bairros residenciais ou seja locais de habitação a custos controlados, destinados a casais jovens da classe média com probabilidades de um futuro promissor que lhes permitiria a continuação do pagamento da casa, que no futuro lhes pertenceria.
Assim, acabei por nascer no Bairro Económico do Restelo, concebido em 1940 pelo Arquitecto Faria da Costa.
Foi um dos bairros construídos em Lisboa que obedeciam a projectos tipo de arquitectura e mais tarde este bairro foi dotado de um Centro Comercial na Rua Duarte Pacheco Pereira, considerado o primeiro da capital.
O conceito de bairro social era diferente do actual.
Noutros tempos, as casas eram preservadas e sujeitas a melhoramentos na sua construção pelos próprios moradores e futuros proprietários, que as estimavam.
Actualmente, o bairro social é composto por habitações adquiridas pelos municípios, de forma a permitir o acesso a uma habitação condigna, a pessoas que evidenciem incapacidade de corresponder às condições necessárias para integrarem noutra modalidade.
Este regime de bairro social funciona através de contratos de arrendamento subsidiados, com rendas compatíveis com a situação económica do agregado familiar.
Lamentavelmente, muitos dos residentes nos bairros sociais forjam a sua situação económica ou mesmo recusam-se a exercer uma profissão, dependendo única e exclusivamente de apoios e subsídios sociais, não se prestando por princípio a conservar a casa onde residem, provocando por vezes e propositadamente a sua degradação.
Podemos tirar o exemplo do bairro Social Quinta da Fonte, em que 90% da sua população vive com o Rendimento Social de Inserção e a maioria nem paga a renda baixíssima da habitação que lhe foi atribuída.
No entanto, chegámos a ouvir nos noticiários um morador reclamando terem-lhe roubado o televisor de plasma, que sabemos são aparelhos de custo avultado.
O sistema actual de bairro social acaba por ter imensas fragilidades, como por exemplo a tendência para a guetização e exclusão social, tipicamente ligada a etnia, segregação e pobreza.
Há algumas pequenas imprecisões neste texto. O bairro das vivendas económicas começou por ser construído para os militares com dois filhos ou mais. Daí o facto de ainda estar no centro do bairro o edifício dos Altos Estudos Militares.
ResponderEliminarEntretanto, por se ter verificado pouca adesão por parte dos militares a este empreendimento, devido aos fracos rendimentos que auferiam na altura, foi então a candidatura alargada a todos os casais jovnes que tivessem dois filhos ou mais, mas que auferissem salários compatíveis com as rendas que teriam que pagar.
Segundo contou a minha mãe, teve de provar que estava grávida de mim para poderem candidatar-se à casa que ainda hoje habito.
O bairro tem tudo o que se pretendia que uma pequena aldeia tivesse: um pequeno jardim na frente, um pequeno quintal atrás, uma rua de comércio no centro e perto de transportes - eléctrico, autocarro e comboio. Igreja não era necessária, porque o Mosteiro dos Jerónimos ficava perto, e suponho que a maioria de nós foi aí batizado, fez aí a sua 1ª comunhão e a profissão de fé.
Brincava-se nas ruas sem qualquer receio, faziam-se expedições pelas "terras" - terrenos baldios que agora são algumas moradias da Av. da Torre - jogava-se ao ringue, ao trapo-queimado, à apanhada, às escondidas. Conheciam-se os vizinhos, trocavam-se taças de fruta dos quintais de cada um, doces feitos com essas frutas, as criadas falavam às portas, o leite e o pão eram postos às portas e ningém roubava nada.
Agora, os recém-chegados levantam muros, põem câmaras nos portões, não falam a ninguém e ficam perplexos quando se lhes bate à porta com uma taça de marmelada dos marmelos que dão para o quintal deles...
Saudades... Confesso que tenho saudades desse bairro sem carros e com muitos miúdos!
Não é essa a informação que tenho de minha mãe que ainda é viva, de que o bairro seria construído para militares. Aliás estava destinado a agregados familiares com pelo menos 5 filhos. A minha mãe pensava que estava grávida do 5º filho quando se inscreveu. Mais tarde para não perder a casa escreveu ao Salazar que anuiu em entregar-lhe a moradia pretendida. O Bairro acabou por receber pessoas de classe média alterando todo o seu propósito inicial.
ResponderEliminarTudo o resto que relata eu também vivi e também recordo com nostalgia.
JJ
ResponderEliminarQuando vim viver para a "encosta da Ajuda" agora B.Restelo na rua H 22 á rua S.Francisco Xavier o bairro que começou a ser construido segundo os meus pais ,era para os pescadores, uma vez que a da doca de pedrouços era perto.
Na altura os proprietários das vivendas da encosta de Restelo movimentaram-se com alguns amigos do Almirante Tenreiro junto de Salazar e este então deu ordem para que fousse para familias numerosas.
O resto está já bem explicado
Os meus pais foram para o chamado Bairro de Casas Económicas do Restelo em 1954, precisamente no ano em que nasci. Parece que foi nesse ano que começaram a chagar os primeiros moradores. Contava me o meu pai que, estando a minha mãe grávida, só no seria atribuída uma moradia, caso o bébé fosse rapaz, o que veio a ser o caso ( eu ). Isto porque só havia 2 quartos e nessa altura era impensável juntar num mesmo quarto um rapaz e uma menina.
ResponderEliminarEra um bairro muito engraçado, realmente todos se conheciam, havia uma série de lojas ( e ainda há ) na rua Duarte Pacheco pereira. Os cafés do Chile, a Pastelaria Restelo ( vulgo chico careca ). A papelaria Restelo, os Externatos Santa Fé , Duarte Pacheco etc etc. Não esquecer a Esquadra da policia, ali mais a baixo , na rua de pedrouços onde imperava o célebre chefe da Esquadra mais conhecido pelo " nove dedos ".
Também me recordo quando o meu vizinho, ascendeu a Ministro da Educação, Hermano Saraiva , nunca se viu tantas ruas serem de novo alcatroadas.. Enfim ..é bom recordar
E por cima da esquadra existia uma pequena biblioteca, onde eu e meus irmãos passávamos tardes na leitura da banda desenhada da época, os Cavaleiros Andantes. Recordo também a Padaria em frente a uma Barbearia do outro lado da Rua Duarte Pacheco Pereira, que fabricava um género de bolo achatado e comprido, com sabor a mel e canela, chamado Língua da Sogra, uma autêntica delícia. É bom recordar estas coisas "pequenas" que nos davam o maior dos prazeres.
EliminarSugiro, quando fala do do arquiteto Faria da Costa, que faça um link a esta página:
ResponderEliminarhttp://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/Entity.aspx?id=a34edeeb-1d22-4f8b-ae46-368811ee28df
A informação é bem mais completa e remete para outros projetos que o arquiteto realizou.
Muito obrigada pelo link.
ResponderEliminarA minha mãe agora com 100 anos ainda reside na sua moradia no Restelo, e, nem queira saber como foi difícil obter da Câmara Municipal de Lisboa informação sobre o Bairro do Restelo, porque nem as plantas possuem.
As finanças no acerto dos IMIs tinha atribuído 16 divisões à moradia aumentando significativamente o imposto, quando a mesma tem 7 divisões.
Conseguimos provar o contrário através de documentos referentes à moradia dos anos 40 que a minha mãe ainda guardava.
Se a moradia da sua mãe pertence ao bairro de casas económicas da Encosta da Ajuda (casas C e D, tipo 1, 2 e 3), poderá encontrá-las online no site www.monumentos.pt, no SIPA (Sistema de Informação para o Património Arquitetónico). Se a moradia não tem projeto-tipo, as plantas têm de estar no arquivo da CML.
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