quarta-feira, 21 de julho de 2010

VIH

Nem calculam como fico satisfeita quando tenho conhecimento de novos e promissores preventivos ao VIH, doença que durante anos me angustiou. 
Estive indecisa se haveria de contar parte da minha vida, mas considero que ao fazê-lo talvez seja uma forma de alertar os amigos que me lêem, a terem o máximo cuidado pois estas desgraças acontecem a qualquer um.
Há muito tempo atrás casei-me e após poucos dias de casada tivemos conhecimento que o meu marido era seropositivo. Dois anos mais tarde separamo-nos mantendo-nos na mesma muito unidos até à sua morte.
Com respeito ao VIH - Vírus da Imunodeficiência Humana, que causa danos ao sistema imunitário e conduz a uma condição denominada SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, há 20 anos atrás era uma doença da qual não havia muita informação.
A sua medicação consistia no AZT um medicamento que se revelou capaz de inibir a reprodução do vírus, ampliando a expectativa de vida dos pacientes, e cujo princípio activo era a Zidovudina substância aprovada para tratamento do Sida.
Inicialmente esta substância era usada no tratamento do cancro, tendo sido descoberto mais tarde o seu potencial na luta contra o VIH.
Os efeitos colaterais da Zidovudina mais importantes passavam pela anemia, tendo como sintomas palidez, fraqueza, cansaço, tonturas e batimento acelerado do coração; a leucopenia (diminuição das células brancas do sangue) e a plaquetopenia (redução no número do componente ligado à coagulação do sangue).
Apesar de tudo, eu e o meu marido na altura, mantivemos uma pesquisa exaustiva por todos os meios ao nosso alcance. Fomos a palestras, lêmos todas as revistas médicas nacionais e estrangeiras que encontrávamos na esperança de obter o máximo de conhecimento em tratamentos e cuidados de saúde, de forma a manter o vírus “adormecido” e com isto proporcionar um prolongamento máximo de vida.
Os médicos que seguiam a evolução da doença, convenceram o meu marido a entrar em protocolos sobre novas terapêuticas lançadas por laboratórios para o combate ao VIH. Por três ocasiões foi sujeito a estes tratamentos mas nenhum foi benéfico pelos seus efeitos hepatotóxicos, piorando o seu estado de saúde.
Para surpresa dos mais próximos não contraí o vírus e, apesar do mesmo poder manter-se incubado no nosso corpo por tempo indeterminado, o meu médico de família concluiu que após 10 anos consecutivos de análises, comprovava-se que eu não tinha qualquer anticorpo que confirmasse o contacto com o VIH.
O meu caso fez-me lembrar outro focado anos atrás, acompanhado e investigado por um laboratório científico, sobre um grupo de nigerianas que se prostituiam há anos, sem qualquer protecção, e não contraiam o vírus por serem portadoras de um gene que as protegia. Talvez eu tenha esse gene e apesar de antes de casar termos vivido juntos durante algum tempo, não houve qualquer interesse da parte dos médicos, nem fui sujeita a qualquer análise para saber o motivo de não ter contraído o vírus da imunodeficiência humana.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, muitas informações na imprensa eram completamente estapafúrdias e geravam confusão nas pessoas àcerca do modo de contágio e consequente medo generalizado sobre a doença. Havia imensa falta de clareza nas informações e persiste ainda a ideia em muita gente que o contágio pode acontecer através de um simples beijo.
Passados mais de vinte anos, o ostracismo e discriminação a que os portadores do VIH estão sujeitos continua, com apenas modestas leis feitas para proteger as pessoas infectadas. Numa atmosfera de completa ignorância e de indiferença, na qual se incluem numerosas organizações e instituições de combate ao SIDA, os seropositivos continuam a ser considerados um perigo para a saúde pública ou seja potenciais agentes de contaminação, tornando-se inadmissível que actualmente existam empresas exigindo análises clínicas antes da contratação de funcionários.
Este acontecimento alterou totalmente o meu comportamento perante a vida. Decididamente era-me impossibilitada a oportunidade de constituir família o que na minha idade fértil foi muito difícil superar e, o ponto de ruptura foi quando anos depois de saber que não tinha o vírus e pretendi doar um pouco do meu sangue, grupo O Rh Negativo por haver poucos dadores, fui confrontada de forma agreste por uma médica no Hospital de Santa Maria dizendo ser crime, reprovando a minha acção, só pelo facto de ter coabitado com um seropositivo.
Como já tinha sido dadora de sangue anos atrás e era contactada anualmente pelo Hospital por via postal, foi doloroso este acontecimento e gradualmente fui ficando distante perdendo contactos, isolando-me e sem paciência para ouvir relatos de problemas de saúde insignificantes.

2 comentários:

  1. Tiveste muita sorte mas o sofrimento deve ter sido mais que muito. A vida é muito complicada.

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  2. Foram anos de um desgaste emocional inenarrável.
    É preciso muito cuidado e sempre... por mais saudável que alguém possa parecer.

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