quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tesouros do passado ameaçados pelas alterações climáticas

Múmias em decomposição na Sibéria, pirâmides desaparecendo sob a areia no Sudão, templos Maias a colapsar: as alterações climáticas estão a pôr em risco inúmeros tesouros do nosso passado comum, avisam os arqueólogos.
O derretimento do gelo pode desbloquear segredos antigos a partir do solo, como a descoberta em 1991 de um guerreiro “Oetzi” de 5.300 anos, cujo corpo havia sido conservado durante milénios dentro de um glaciar dos Alpes.
Mas, conforme os glaciares vão derretendo, os desertos alastrarem, os níveis do oceano aumentarem e os furacões intensificarem, tudo efeitos provocados pelo homem, teme-se um pesado tributo sobre o património mundial.
Uma equipa arqueológica francesa na Ásia Central, que desempenhou um papel importante na escavação do kurgans, túmulos congelados de tribos nómadas das montanhas da Sibéria, teme que os mesmos se percam.
O permafrost, a camada permanentemente congelada da Terra, que os protegia até agora, está derretendo. Existem corpos mumificados tatuados, enterrados com cavalos sacrificados, existem peles, objectos de madeira e roupas. Parte do solo vai derretendo a cada estação e a está a ficar cada vez mais fundo. Se não se tomarem medidas preventivas, em breve será tarde demais.
O guerreiro Oetzi foi descoberto, certamente devido a um recuo de altitude do glaciar  da região do Tirol italiano.
O derretimento dos glaciares, sobretudo na Noruega, está regularmente a revelar outros tesouros.
Como uma Atlântida moderna, os especialistas alertam que o aumento dos níveis do oceano, que segundo algumas previsões poderá saltar um metro até 2100, está  a pôr em risco dezenas de sítios arqueológicos costeiros, com as ilhas do Pacífico na linha da frente.
Na Tanzânia, a erosão marítima já destruiu uma parede do Forte Kilwa, construído pelos colonizadores Portugueses numa ilha costeira em 1505.
E, em Bangladeshe, a cidade em ruínas de Panam em Sonargaon, o coração do reino de Bengala do séc.XV ao XIX, é frequentemente atingida por inundações.
Hoje, Panam é um dos 100 locais listados pela UNESCO como ameaçadas pelas alterações climáticas.
Um aumento na previsão de eventos climáticos imprevisíveis, furacões principalmente, é outra grande fonte de preocupação.
Como o caso de Chan Chan no Peru, a antiga capital da civilização Chimu e maior cidade pré-colombiana na América Latina, que já está severamente exposta a inundações ligada ao fenómeno climático El Nino.
Da mesma forma, o templo maia de Tabasqueno no México teve de ser em grande parte reconstruido, após ter sido danificado por dois furacões, o Opalo e o Roxana em 1995. Os arqueólogos conseguiram estabilizar o templo principal, mas a construção ficou saturada com água desabando para dentro.
A areia é um dos piores inimigos dos sítios arqueológicos, como no Sudão, onde as dunas que avançam sobre as Pirâmides de Meroe, a capital de um reino florescente do séc. III AC ao séc. IV AD.
Em Omã, dois ciclones, o Gonu em 2007 e Phet no ano passado, enterraram totalmente com areia locais de pesquisa arqueológica que datam do quinto e sexto milénio AC.
Os arqueólogos advertem que os esforços da UNESCO para identificar locais de risco não vão suficientemente longe, apelando para o mundo "soar o alarme" sobre esta ameaça.
A Arqueologia é parte da memória humana, e propõem que soluções radicais podem ser necessárias para proteger os tesouros do passado da mudança climática, citando o caso dos Templos de Abu Simbel, no Egipto.
Na sequência de um esforço internacional, todo o complexo foi transferido em 1960 para evitar que fossem submersos pela construção de uma barragem no rio Nilo.

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